Musgos congelados que foram enterrados
sob geleiras há 400 anos já foram “trazidos de volta à vida” pelos
cientistas. Surpreendentemente, as resistentes “briófitas” não
precisaram de nenhuma técnica especial para se regenerar. Isso significa
que elas podem ser candidatas para colonizar ambientes extremos – até
mesmo no espaço.
Durante a Pequena Idade do Gelo, que
ocorreu entre os séculos 16 e 19, geleiras maciças se moveram e cobriram
várias regiões do Hemisfério Norte. Elas recuaram lentamente ao longo
do século 20, e a taxa de derretimento do gelo acelerou-se desde 2004.
O recuo das geleiras está agora revelando comunidades vegetais incrivelmente preservadas, segundo Catherine La Farge, botânica da Universidade de Alberta.
Briófitas são plantas não-vasculares,
como musgos, e que não produzem flores ou sementes. Em vez disso, elas
se reproduzem assexuadamente através de esporos. Elas podem experimentar
o crescimento clonal e produzir uma nova planta a partir do tecido
vegetativo fragmentado que caiu da planta principal. Embora elas não
sejam a fonte de alimento preferencial dos herbívoros, ainda são uma
parte importante do ecossistema, oferecendo casas para a micro-flora e
fauna.
Como parte de um projeto ambiental que
estudava os efeitos da poluição no Ártico, La Farge e seus colegas
fizeram uma viagem em 2007 para Sverdrup Pas, uma passagem de uma
montanha no centro de Ellesmere Island, no Canadá, para estudar a
diversidade de briófitas na área.
Uma datação por carbono confirmou que as
briófitas foram sepultadas na geleira durante a Pequena Idade do Gelo,
cerca de 400 anos atrás. E quando os pesquisadores analisaram amostras
sob seus microscópios, eles viram que as plantas de fato experimentaram
uma regeneração do ramo lateral. Eles, então, decidiram capturar
fragmentos das plantas e testar sua capacidade de regeneração.
A equipe semeou o caule e o tecido
foliar no solo e o regou com frequência. Usando essa técnica simples,
eles foram capazes de crescer 11 culturas de 7 exemplares, o que
representou 4 espécies diferentes (Aulacomnium turgidum, Distichium
capillaceum, Encalypta procera e Syntrichia ruralis).
Os pesquisadores observam que essas
briófitas não são as mais antigas plantas congeladas a serem regeneradas
– o título vai para a espécie Silene stenophylla, com 32.000 anos de
idade. No entanto, a técnica usada para regenerar a S. stenophylla era
muito mais complicada, exigindo que os cientistas extraíssem o tecido
placentário a partir de sementes, para cuidadosamente clonar o tecido e,
em seguida, fazê-los crescer com nutrientes especializados.
La Farge espera que o estudo estimule o
interesse em briófitas, que não são amplamente estudadas por botânicos.
“Eu acho que todo o sistema biológico de briófitas não é realmente bem
compreendido”, diz ela. Mas a partir de seu estudo, parece que as
briófitas são capazes de se desligar durante a dessecação e reviver
quando as condições melhorarem. Algumas plantas têm poderes
regenerativos devido à capacidade de suas células se desdiferenciarem
(perder sua função especializada) e retornar a um estado como os de
células-tronco, permitindo-lhes, em seguida, se tornar qualquer tipo de
célula vegetal.
“Essas plantas são muito hábeis em ambientes extremos”, diz La Farge, acrescentando que as implicações da pesquisa vão além de pequenos ecossistemas da Idade do Gelo. Ao estudar mais a regeneração das briófitas, os cientistas podem obter uma melhor compreensão dos “sistemas de vida básicos”, incluindo a forma de promover o desenvolvimento biológico em ambientes extraterrestres, tais como Marte.
Fonte: Mistérios do Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário